ESMAVC Radio Station – Erotismo e Pornografia / Eroticism and Pornography
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- Publication date
- 2015
Programa Radiofónico de Carlota Barros A Radio Broadcasting by Carlota Barros Maria Amália Vaz de Carvalho High School
Oficina de Multimédia / Class of Multimedia
Prof. João Soares Santos
O projecto ESMAVC Radio Station consiste na criação de conteúdos áudio digitais que poderão ser escutados através da internet ou transmitidos por outros meios de comunicação. Esses conteúdos são temáticos, congregam textos, locução, sequências musicais, ruídos, efeitos sonoros e silêncio, devidamente organizados consoante a intenção dos alunos. Este material é elaborado na disciplina de Oficina de Multimédia e pode ter qualidades mais experimentalistas e ensaísticas ou atributos mais convencionais. Serão tratados temas da História e Estética da Música, do Cinema, da Literatura, das Artes de Cena ou Plásticas bem como outros assuntos relevantes de outras áreas do conhecimento que os alunos decidam explorar.
Em paralelo realizar-se-ão anúncios publicitários referindo-se a produtos ou serviços absurdos nos quais a montagem sonora final terá um teor cómico, poético ou crítico.
ESMAVC Radio Station goal is the creation of digital audio content that can be heard over the internet or transmitted by other media. These contents are themed, congregate text, locution, musical sequences, noise, sound effects and silence, organized according to the students' motivation. This material is prepared in the class of Multimedia and will have a more experimental and essayistic orientation or a more conventional approach. Themes cover History and Aesthetics of Music, Cinema, Literature, the Performing Arts, Painting, Sculpture, Architecture, as well as alternative issues relevant to other areas of knowledge that students decide to explore.
In parallel the class must create advertisements referring to absurd products or services where the final editing must have a humorous, poetic or critical feature.
- Addeddate
- 2015-04-13 18:46:07
- Identifier
- CarlotaBarrosErotismoEPornografiaEQ
- Scanner
- Internet Archive HTML5 Uploader 1.6.1
- Year
- 2015
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Subject: ESMAVC Radio Station – Erotismo e Pornografia / Eroticism and Pornography
Nu artístico é a designação dada à exposição do corpo despido de uma pessoa em diferentes meios artísticos. O nu pode ter diversos contextos, interpretações e significados pessoais e culturais, da mitologia até a religião, como representação da beleza, como ideal estético da perfeição, como na Grécia Antiga. A arte foi de sempre uma representação do entendimento mundo e do ser humano, um reflexo da existência humana. Por isso, o nu não deixou de estar presente na arte, sobretudo nas épocas anteriores à invenção de procedimentos técnicos para captar imagens do natural (fotografia e cinema), quando a pintura e a escultura eram os principais meios para representar a vida. O corpo proporciona prazeres e dores, tristeza e alegria.
Desde os tempos antigos nu teve - especialmente desde as formulações clássicas da Grécia Antiga - uma marcada componente estética, pois o corpo humano é objecto de atracção erótica, um instrumento privilegiado dos ideais de beleza que vão mudando com o tempo, segundo o gosto colectivo de cada época e cada povo e particular de cada receptor.
Jean Baudrillard, sociólogo e filósofo Francês, considera o corpo como o mais belo objecto de consumo. O corpo é hoje a definição, através dos signos, do que somos e do que nos impõem. Queremos com isto dizer que, o corpo veste uma série de normas e de modas que a própria cultura nos inculca. O corpo foi, é, e continuará a ser, alvo da própria transformação cultural e a relação entre os corpos também sofre alterações cronológicas e varia consoante o ponto do globo onde nos encontramos. Como refere Baudrillard «o modo de organização da relação ao corpo reflecte o modo de organização da relação às coisas e das relações sociais».
Joachim Lebreton, professor francês, expressa precisamente essa relação ao assumir que transformamos o nosso corpo num mapa de signos, numa bandeira, quando usamos os piercings e as tatuagens como forma de cartão de apresentação das próprias crenças e estilos de vida. Segundo Baudrillard, a altura em que o corpo ganha uma maior importância que a alma terá coincidido com o afirmar da sociedade de massas e de consumo. Se antes era a alma que assegurava a salvação, nesta nova sociedade, só poderá ser assegurada se o corpo cumprir com os requisitos impostos pela sociedade, onde é mais importante o ter que o ser, sob pena de exclusão social se assim não for. Esta sociedade de espectáculo é potenciadora e potenciada pela sociedade de consumo, numa dinâmica de constante necessidade e compensação entre ambas, com a finalidade de transformar o corpo num instrumento de prazer e metamorfose. Assim, o corpo consumidor de produtos obrigatórios e supérfluos passa a ser, também, produto de consumo e espectáculo, potenciado por outros produtos e serviços. Devemos ainda referir que, e tal como defende Baudrillard, o corpo se rege por definições de beleza, e por aquilo que é ditado pela cultura, pelos apelos hedonistas e pelo erotismo.
Todavia, lembremos a liquefacção descrita por Zygmunt Bauman, sociólogo Polaco, em que a ligação amorosa entre os indivíduos, que tem vindo a repetir a própria dinâmica da sociedade, é marcada pela ausência do compromisso e da norma ou orientada por uma norma liquefeita, marcada pelo efémero, pelo momentâneo, pelo incerto. O corpo feminino talvez seja o tema mais explorado ao longo da história da arte ocidental, e a diversidade de suas representações oferece um painel significativo dos papéis simbólicos a ele atribuídos através dos tempos. Por isso mesmo, o feminismo criticou o nu como uso objectual do corpo feminino e signo do domínio patriarcal da sociedade ocidental. Perguntamos então, porque é o corpo feminino usado como forma de atracção e não o do homem?
O corpo feminino nu desempenha um papel preponderante na cultura ocidental como já sabemos, a recorrência das formas deu origem a um imenso acervo de imagens, que reúne as pré-históricas Vénus esteatopígias até as novíssimas modelos digitais. Partindo do princípio de que o impulso para forjar estas imagens encontra-se profundamente enraizado na mente humana, o nu estabelece-se como suporte preferencial, palco onde se projectam paixões de ordem estética, religiosa, política e social. A arte fez do tema uma referência para instaurar diferentes valores, positivos e negativos, já que o nu feminino transporta conotações ambíguas que oscilam no limite entre ideal e real, permitido e proibido, desejável e inconveniente. Como símbolo de Beleza, o nu foi empregado para normalizar todo um sistema de proporções e percepções; os artistas, predominantemente do sexo masculino, modelaram os cânones que dão conta da feminilidade e da sexualidade feminina. Modelos que propõem não só definições individuais para o corpo feminino, como também determinam regras específicas do ver e ser visto. Ocorre uma discussão sobre o sublime: os grandes estilos artísticos são definidos numa terminologia que resgata o masculino (forte, vasto, poderoso), assim como os estilos ornamentais são definidos numa terminologia que resgata o feminino (delicado, gracioso, suave).
É marcante, por exemplo, a relação entre o género natureza-morta na pintura a óleo e o espaço feminino. O género natureza-morta, com seus retratos de interiores domésticos e de objectos inanimados, não só foi considerado «feminino e menor» em oposição à pintura por mulheres. Embora comummente despovoadas e silenciosas, as naturezas-mortas às vezes não se conformam em aludir ao humano de forma indirecta, através dos seus adornos e/ou despojos materiais e acabam recorrendo à representação directa de personagens. Coerentemente, os seres humanos, em geral mulheres, que invadem as pinturas deste género são aqueles cujas individualidades tendem a zero. Confundidas com o ambiente, transformadas numa categoria espacial, as mulheres figuram ao lado das coisas tidas como decorativas - as flores nos vasos; ou apetitosas - os frutos nas cestas; retratadas com a mesma imobilidade, silêncio e beleza que envolvem os objectos e seres com os quais elas lidam: os utensílios, os alimentos, as crianças e os animais.
Apesar disso, como diz John Berger, crítico de arte, romancista, pintor e escritor inglês, o género por excelência no qual a mulher é o tema principal é o nu. Os nus femininos da tradição pictórica ocidental têm origem nas belas estátuas gregas, que esculpiram no mármore não só a arquitectura de formas pré-concebida, mas também os gestos fundadores de uma estética da ambiguidade feminina, presente na atitude de velamento e desvelamento da sua intimidade física, fartamente reproduzida no decorrer dos séculos. Basta comprar uma das muitas reproduções da clássica Vénus com a série deflagrada a seguir: no Renascimento, com o mitológico «Nascimento de Vénus» (1480), de Sandro Botticelli; e no Barroco, seja com «Adão e Eva» (1550) das Sagradas Escrituras, seja com a profana «Vénus de Urbino» (1536), ambas de Tiziano Vecellio. Neste ultimo quadro, ao mudar a posição da mulher, deitando-a sobre um leito, Tiziano acrescenta um detalhe postural definido à tradição, que passa a ser copiado na modernidade, tanto pelos românticos como pelos realistas.
Francisco José de Goya y Lucientes, por exemplo, transforma-a na Maja Desnuda (1800), uma idealizada musa completamente exposta e languidamente oferecida, entre sedas e rendas, à fruição dos espectadores/compradores; enquanto Manet e transforma na fria e calculista prostituta Olympia (1865), cuja olhar perdeu toda a inocência da Maja e já se percebe plenamente uma mercadoria, reflectida no espelho da arte também mercantilizada. De forma irónica, o surrealista René Magritte põe um ponto final na tradição deste cliché pictórico com a sua releitura do quadro representando Juliette Récamier (1800), de Jacques-Louis David, ao substituir o corpo da mulher convencionalmente representada no leito pela imagem de um caixão, no seu quadro de 1950.
Uma autêntica violação como sugeria Magritte, nos seus retratos de um rosto feminino substituído pelos elementos do tronco da mulher, denunciando a postura dominante do género nu na história da arte ocidental, reveladora de uma estética da subjugação e da depreciação da mulher na reprodução exaltada de seu corpo coisificado. O que chama a atenção em todos esses exemplos é a decisiva importância do corpo feminino na geração do corpo sexual. As representações da mulher giram sempre em torno do exercício da sexualidade/erotismo e dos seus efeitos: desde a mera excitação física e/ou psicológica a considerações filosóficas e ideológicas sobre as crenças e comportamentos que determinam as relações do poder e fornecem as bases fundacionais das instituições e dos discursos.
Na concepção do filósofo George Bataille, escritor Francês, o erotismo está relacionado com a morte. O erotismo é muito mais profundo do que é dito por aí, é a sensação de atingir o ser mais íntimo, de se abrir para a continuidade, como ele diz. É o momento onde dois seres formam um, trata-se de um sentimento que supera tudo e, ao mesmo tempo, não excede o que temos de mais primitivo. É quando o êxtase e o transbordamento amoroso se associam à solidão e ao auto-conhecimento, humano e bestial, ao mesmo tempo. Bataille parte da noção de que somos descontínuos e que possuímos a «nostalgia da continuidade», o que comanda o erotismo. Dessa forma, pode-se dizer que é a eterna busca de algo que nos complete que nos torne contínuos, enfim que nos torne «um».
A busca e a fuga, eroticamente, precisam ser aqui explicadas e, ao debatermos sobre erotismo, neste momento, seria relevante mostrar a sua distinção em relação à pornografia. A compreensão e análise da pornografia estão repletas de valores, ideias e normas de condutas num grupo social num determinado momento histórico. A pornografia pode ser considerada variável porque se restringe a um determinado tempo e local, delimitada também por questões religiosa, costumes etc. Através disso, deparamos com a corriqueira noção de a pornografia ser algo vulgar e grosseiro e o erotismo mais nobre e grandioso, o primeiro mostrando explicitamente sexo e o segundo sugerindo-o e de se igualar sexo e nudez a pornografia. No sentido etimológico, a palavra vem do grego «pornos» (prostituta) e grafo (escrever), em outras palavras designa a escrita da prostituição ou o comércio do sexo. Talvez seja este um dos motivos de como está actualmente vinculada, de modo mais amplo, à libertinagem associada ao dinheiro.
É considerado erotismo aquilo que liga indirectamente à sexualidade. E na pornografia, a prioridade seria o consumo e o lucro. Na pornografia, temos, de certa forma, de compactuar com as ideias e conceitos estabelecidos no passado. Para sentirmos prazer, é necessário adquirir os seus valores, estereótipos. Diferente da pornografia é o erotismo. Não podemos esquecer-nos de outro elemento fundamental que encontramos no mito platónico e na teoria de Bataille: o erotismo é a união dos seres à sua ordem natural, à sua totalidade, no segredo, enquanto a pornografia é a mutilação dos seres, no gozo parcial, superficial e solitário. O amor líquido representa um novo paradigma das relações e da sociedade que repele tudo o que é sólido e duradouro, tudo que não se adapta à utilização imediata. Num mundo líquido, o amor tem que ser também diluído, porque desse modo pode ser melhor aproveitado. Os serviços eróticos e sexuais potenciam este modelo e criam produtos e necessidades em torno deste paradigma.
O sexo, entendido como relação sexual entre seres humanos, poderá, certamente, ser discutido sob diferentes perspectivas. Além da sua função reprodutora, é entendido normalmente como uma prática propiciadora de prazer e de deleite com o outro. Georges Balandier afirma que «a sexualidade humana é um fenómeno social total: tudo se joga aí, se exprime aí, se estrutura aí desde o começo das sociedades». Das mais conservadoras às mais liberais, têm vindo a público práticas diversificadas e alternativas a uma rotina entre os elementos do casal. Antes de mais, destaquemos que aquilo que antes fazia parte da esfera estritamente íntima, se torna cada vez mais público e explícito, seja na realidade quotidiana, seja na forma como a sociedade comunica, ou mesmo nas representações que se fazem dela. No entanto, se tivermos em conta estudos sobre o tema, o sexo continua a ser tabu, ou pelo menos desconfortável para muitos. Michel Foucault, filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário, refere que «a história ocidental reprimiu o corpo durante muito tempo e foi a troco de dolorosas lutas que o corpo e, depois, o sexo se libertaram». Segundo Valerie Tasso, escritora Francesa, «hoje reprimimos o sexo, não por ocultação mas por sobre-exposição», o que os especialistas chamam de «sobrecarga de estímulos e de intoxicação da vida privada» culpando os média, por venderem as representações das relações sexuais de tal forma que criam nos espectadores um sentimento de ansiedade, perda de espontaneidade e auto-estima. Esta é também a posição de Foucault, que considera que «o universo do porno constitui em definitivo, um travão ao “bom orgasmo” e um impedimento ao desabrochar da sexualidade, o que só reforça os estereótipos e as frustrações de todo o género». Além disso, há autênticas campanhas de promoção do sexo, afirmando as suas vantagens tanto para o indivíduo como para os relacionamentos, assumido com qualquer outro produto no mercado. Fala-se de uma hiper-sexualidade na sociedade, de uma banalização do acesso a imagens deste tipo, mas de uma forma que desvirtua a realidade, ou como afirma Pedro Mexia, poeta, cronista e crítico literário português, que «mostram uma faceta pesada e obscura, um vazio existencial, que contrasta com o espírito dos anos 1970, quando o sexo era percebido como libertador e festivo», coincidindo com a geração hippie, do amor livre. Esta hiper-sexualidade derivará certamente de uma hiper-realidade, caracterizada pela instantaneidade de satisfação de desejos e prazeres, pela procura do lazer fora, mas dentro de portas, criando uma realidade não real (um simulacro), e a uma alienação do que esta representa. Ao banalizarmos as práticas sexuais, e ao transferi-las para a esfera pública, criam-se outras, nomeadamente no que diz respeito ao consumo e ao lazer.
Carlota Barros
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